CAROL W

O papel machê entrou na minha vida logo na infância, na escola. Me encantou tanto que se tornou meu principal instrumento de trabalho, justamente por me aproximar dessa fase lúdica da vida.

Considero o papel machê uma técnica um pouco marginalizada no mundo acadêmico das artes, mas acho que é exatamente isso que mais me atrai nele. Acho ele rústico, bruto. Mas ao mesmo tempo extremamente leve, delicado e livre.


Atualmente os temas que mais exploro são o feminino junto à natureza e também a relação entre humanos e os animais. Sinto que meu trabalho pode ajudar as pessoas a olharem os animais de outra forma, como seres que não estão aqui para nos servir ou serem explorados por nós.

Já ministrei oficinas sobre a técnica pelo Brasil e no exterior. Fiz diversas exposições individuais e coletivas, trabalhei com marcas como Melissa e Schin e recentemente ganhei um importante prêmio do teatro (CNTIJ) pelo trabalho de máscaras e adereços para a peça Ombela, a origem das chuvas.

Onde você nasceu e atualmente onde vive e trabalha?

Nasci em Porto Alegre, Sul do país, e hoje vivo em São Paulo.

Quando a Arte entrou na sua vida?

A arte na verdade nunca deixou de fazer parte da minha vida. Como toda criança, passava uma boa parte dos meus dias desenhando. A única diferença, talvez, é que segui desenhando e sempre fui estimulada por meus pais a continuar. Muitos de nós começam a deixar de desenhar quando aprendem a escrever e no meu caso, nunca parei. Outra coisa é que meus pais sempre adoraram as diversas formas de expressão artística. Meu pai sempre muito ligado á música, ao cinema e aos quadrinhos. Minha mãe também ama muito o cinema e o fazer manual, principalmente a costura. Por isso eu e minhas irmãs sempre crescemos nesse universo e a arte foi sempre assunto em casa 🙂

Qual é sua maior motivação para criar? O que te move?

Eu realmente sinto que a arte pode trazer reflexão, beleza e alívio. Admirando uma obra ou visitando uma exposição, a gente acessa algo muito profundo em nós, algo primitivo, uma conexão com um lado mais selvagem e ao mesmo tempo mais lúdico. A gente se permite. Isso realmente me motiva. Algo importante também e que me motiva é o fato de poder expressar aquilo que é importante pra mim, como relação entre humanos e os animais e o universo feminino. Meu trabalho fala sobre mim, mas também fala de muitas pessoas. E essa conexão através da arte é linda e poderosa.

Quais são suas referências, influências e seus artistas preferidos?

Eu tenho muitas inspirações e sempre gosto de citar o Ziraldo que conheci criança quando ele autografou meu livro Menino Maluquinho e depois o vi de novo muito anos depois em um evento. Guardo essa memória afetiva de crescer admirando seus personagens de mãos e pés enormes, cheios de humor e ternura. Tenho muita dificuldade de citar outras nomes, pois são tantos artistas maravilhosos e eu mudo tanto nesse sentido que não saberia mencionar sem depois me arrepender por não ter incluído esse ou aquele nome. Mas um que eu tenho enorme admiração por seu processo em que ele passava dias e mais dias dentro de seu estúdio, criando, criando e criando incansavelmente, é sem dúvida Picasso. A quantidade de obras criadas por ele nas mais diversas superfícies é algo que me inspira sempre.

Como é o seu processo criativo?  

Quando vou produzir uma exposição ou uma série de esculturas, primeiro começo decidindo com o tema. Depois, uma pesquisa intensa sobre o assunto, procuro saber se existem textos a respeito e vou estudando. Depois começo a fazer os esboços das peças (a peça final muitas vezes fica totalmente diferente do primeiro esboço) e após isso parto para a estrutura e modelagem das peças. Depois que eu já estou totalmente absorvida por aquele universo e já entendi a conexão entre as peças, crio o texto sobre a exposição e o título arremata tudo. Existem algumas variantes nesse processo e não há regras, mas em geral é assim que trabalho.

Como está seu processo criativo neste período de pandemia?

Tenho tido altos e baixos. Alguns momentos de muita motivação e alguns outros de uma baixa forte na inspiração. Mas sei que são fases dentro de um período muito difícil no mundo. Tenho respeitado muito esses momentos em que preciso repor as energias pra depois recomeçar com tudo. Estou começando a esboçar um projeto onde vou criar esculturas que falarão justamente desse momento difícil de isolamento que estamos passando. Acho que isso vai me ajudar muito também.

Seu trabalho passa por uma experimentação de materiais?

Passa sim, mas a verdade é que sempre tento inserir os novos materiais ao papel machê, que é minha técnica principal. E ele por ser muito versátil, acaba aceitando super bem.

Qual foi sua inspiração para estas séries apresentadas?

Essas peças falam principalmente da nossa relação com a natureza e as animais. “Redoma” fala de uma menina que se sente protegida em meio a natureza. “Melipona” fala da minha preocupação com a ameaça de extinção das abelhas e a tragédia que isso pode acarretar ao planeta, já que elas responsáveis pela polinização de 80% dos cultivos do planeta. ” Animália” é ser híbrido que leva consigo elementos de diversos animais que estão ameaçados de extinção como a Águia das Filipinas e o Tucano do Bico preto. ”Desbravadores” mostra um homem sendo conduzido por um pequenino passarinho. Essa peça, mas antiga que as outras fala de parceria, de confiança. E de como deveríamos nos comunicar e ouvir mais a natureza.

Quais materiais foram utilizados para estas obras?

Principalmente o papel machê, claro. mas também usei arame, papéis estampados, pena de passarinho que achei na rua e tinta acrílica.

Como é para você expor seu trabalho? Presencialmente e agora, quase que somente virtualmente, como tem sido?

Presencialmente tem um significado intenso pra mim. Ver as pessoas se emocionando e se identificando diante de um trabalho meu, me emociona muito. Poder conversar com elas e trocar essa experiência linda. Sinto falta disso com certeza. O virtual tem sido um experiência bonita. Sempre divulguei meu trabalho nas redes, mas agora parece que ficou mais intenso, percebo as pessoas procurando a arte para fugir um pouco dessa atmosfera pesada que estamos vivendo e o feedback tem sido incrível. As duas formas tem muito valor pra mim.

Quais os projetos em andamento e planos de futuros projetos?

Tenho um projeto que lancei recentemente, só que são com personagens em madeira colecionáveis. A aceitação foi grande 🙂 Estou super realizada com esse projeto! Tenho um projeto que vai acontecer no segundo semestre de 2021, uma collab com o artista Marcos Coelho. Ele faz colagens incríveis, muito poéticas e surreais. Escolhemos 10 delas e irei transformá-las em esculturas. Estou super animada com essa parceria!

“Redoma” (2016)

Papel Machê e Arame

30cm de diâmetro

“Melipona” (2017)

Papel Machê, Arame e Colagem

35 x 12 x 12 cm

“Animália” (2019)

Papel Machê, Arame, Peça em Metal

40 x 20 x 20cm

“Os Desbravadores” (2010)

Papel Machê, Arame, Penas, Colagem

30 x 20 x 40 cm

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